Um rio nasce do nada, tal como as estrelas são douradas e o fogo é incandescente. A água corre, enrola-se e serpenteia. Da nascente até à foz. A vida inteira.

Para pensar

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Firmamento



Aqui estou finalmente
tão só como sempre.
Sentado, colado, impedido
de conquistar a voz
que, ofegante, se exprime
compulsivamente.
Pregado ao novo mundo
(imóvel a cada segundo)
em que tudo se move
para voltar ao centro.

Num deslocamento impreciso
sem recenseamento ou pré-aviso
voam bandos de pássaros azuis
na dança do fogo.
Tenho-me crucificado em vão,
aos poucos repiso, venero o chão
e peço compreensão!
A cada dia o céu muda de cor,
debotam-no os voos das aves a motor
cruzando oceanos.

Que pode ser dito
a um mundo em conflito?
Zumbidos mudos... Ouvidos interrompidos...
A ânsia de guerrear enfurece
a inconsciência espectacular
e estridente.

À noite
as estrelas entretêm-se a contar
as luzes da rua dos inocentes.
Por cada um(a)
cresce o firmamento.

Alexandre Reis (J8)

2 comentários:

Conceição Bernardino disse...

Este poema está lindíssimo embora se trate de uma tragédia horrenda, em que a corja dos governantes só consigam atingir que menos merece.
A loucura, o fanatismo desbasta qualquer mundo por quanto mais tempo iremos aguentar?
Este cheiro a morte que o nosso mundo transpira.
Beijo
ConceiçãoB

Alexandre Reis disse...

Onde pára a razão? E o coração?
Sem compreensão!